Viscondessa de Tabatinga
Foto: Cortesia de Elaine Brado.
ANNA ALEXANDRINA CAVALCANTI D´ALBUQUERQUE
( Brasil - Pernambuco )
Escritora pernambucana, pertencente a uma família da elite açucareira, teve educação privilegiada o que permitiu a ela ler Goeth e Balzac; usou a literatura para reagir as limitações impostas pela sociedade a mulher.
nasceu no municipio de Nazareth, da província de Pernambuco.
Recebendo apenas uma educação rudimentar, muito joven ainda possuía um bello volume de composições políticas, cheias de suavíssima e amena naturalidade, segundo a opinião muito competente de quem ministrou-me as presentes informações; mas um dia o desengano varreu-lhe as crenças da primeira edade, e ella n'uma sorte de delirio entregou ás chammas esse volume e com elle as páginas de suas apaxionadas confidências, de seus sonhos de menina.
Para ler a (longa) biografia completa, acesse:
https://pt.wikisource.org/wiki/Diccionario_Bibliographico_Brazileiro/D._Anna_Alexandrina_Cavalcanti_de_Albuquerque
CAMPOS, Antonio; CORDEIRO, Claudia. PERNAMBUCO, TERRA DA POESIA - Um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI. Recife: IMC; Rio de Janeiro: Escrituras, 2005. 628 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda
O NEGRO
Desce a noite sombria do horizonte
Enrolando o universo em negro véu,
Uma a uma as estrelas vão fulgindo,
Quais pirilampos, pelo azul do céu.
Do sacro bronze a voz inspiradora,
Pelo espaço ressoa molemente,
A brisa do crepúsculo pela relva
Travessa se espreguiça docemente.
O canário no ninho já pousando
Conchega-se à consorte pipilando,
E passando-lhe o bico n´áurea pluma,
Vai endechas de amor lhe murmurando.
A viração da noite vai frisando
Do lago de safira a face lisa,
Além, sob o alpendre duma choça,
Um grupo de dois seres se divisa.
São vítimas da ambição e tirania,
Seres livres que os homens algemaram
No viço da existência, dois escravos
Que no mesmo regaço se embalaram.
O negro, qual carvalho secular,
Levanta o busto forte e vigoroso,
Ampara a fraca irmã no braço hercúleo,
Conchega-a ao peito com desvelo ansioso.
Senta-a nos joelhos lhe animando a face.
Pousa-lhe os braços sobre o colo nu,
Contempla-a triste e lá no imo d´alma
Diz: "pobrezinha, não rirás mais tu?"
Tão jovem! ... quando a aurora da existência
Resplende divinal na tua fronte!...
Quando ainda a virgínea adolescência
Perfuma os lírios de tu´alma insone!...
Tão bela!... quem já teve do teu rosto
A doçura tocante, a placidez?...
Qual já teve a meiguice dos teus olhos,
Quem já teve o cetim da tua tez?
Quem já teve o langor dos teus olhares
Nos êxtases sublimes da oração?...
Quem na frase exprimiu tanta inocência,
Quem teve mais amor no coração?
Ninguém, e no entanto a tirania
Na fronte te imprimiu a marca infame:
O branco manda ao negro que não pense,
O branco manda ao negro que não ame.
Déspota!... ao coração e ao pensamento
Arremessa o grilhão negro, aviltante!
Eu vingança, porém, peço ao futuro,
Na expressão de Goethe agonizante!
E além, entre as brumas do horizonte,
Um pouco luminoso vai surgindo,
É a civilização, que altiva e ousada,
Nas trevas da ignorância avança rindo.
Caminha, avança, aurora redentora,
Da América nos turvos horizontes!
Que este século ainda possa ver a luz
Da remissão fulgir em vossas frontes!
E estreitando o negro o débil corpo
Da irmã querida, seu amor mais puro,
Fitou o céu de estrelas recamado,
Pendeu a fronte e murmurou: Futuro!
(In: Escritoras Brasileiras do século XIX, p. 907-908).
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Página publicada em setembro de 2022
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